Quantas vezes você já se sentiu intimamente ligado a alguém que está mais presente no seu feed do facebook do que nas mesas de bar com você? E quantas vezes os posts de outros e as conversas no whatsapp foram sua companhia e até afago em dias complicados? Solidão ou nova forma de se relacionar? Her, de Spike Jonze, fala sobre conexões loucas, indo além: o amor entre um homem e um sistema operacional.
Theodore, o personagem principal (interpretado pelo sempre incrível Joaquim Phoenix), é um solitário separado que ainda sofre com as memórias do casamento. E enquanto tenta distrair a mente, entre o trabalho e a hora de dormir, brinca de videogames holográficos e acessa redes de telesexo. Quando compra um novo sistema operacional organizacional, ele se depara com uma nova companhia: o programa de computador ganha não só uma linda e receptiva voz feminina (interpretada pela sexy Scarlet Johansson), como um nome – Samantha – e… sentimentos.
Em praticamente todas as cenas de Theodore, há um toque de vermelho, seja nos móveis, papéis ou roupas. Adoro esse tipo de recurso de usar a cor para induzir o olhar do espectador, pontuando sentimentos, seduzindo conclusões.
A partir de então, Theodore e Samantha passam o dia juntos, percorrem novos espaços, viram cúmplices. Passeiam, vão à praia, a programas de casais e, claro, pra cama. A intimidade e curiosidade de um pelo outro aumentam a cada dia e, consequentemente, o elo entre eles. Os diálogos são lindos, por serem reais – e aí, a grande sacada de fazer o espectador entender essa relação entre os protagonistas do filme. Em um determinado momento, assim como Theodore, você se pergunta: calmaê, Samantha, você não é real? E o sentimento que existe é? Sentimentos podem ser programados?
Her é ambientado em uma Los Angeles futurista, ao mesmo tempo em que ganha toquês retrô com o filtro amarelo e o figurino meio anos 50/60 (adoro que todas as calças dos homens são de alfaitaria e têm cintura altas/ganchos longos). Tudo isso faz a gente ter a sensação de não saber onde e em que tempo estamos. A brincadeira passado/futuro é potencializada pela profissão de Theodore: escrever cartas encomendadas, que são ditadas para um computador que as escreve com letra manuscrita. A trilha poética-melancólica, assinada pelo Arcade Fire, embala o clima nowhere land.
Há quem diga que Her é uma resposta a Lost in Translation, de Sofia Coppola, ex de Spike Jonze. Será? Não sei dizer… mas, fato que os dois trazem personagens que lidam com autoria, bom figurino, ritmo lento e uma pontada gelada no coração cada vez que a solidão dos personagens é representada pelo contraste entre os grandes prédios X eles.
Mas, em Her o buraco é mais embaixo: o filme é uma reflexão sobre o amor, as relações, a intimidade, as expectativas X a realidade. E o que é o amor? Como ele é construído e desconstruído? Como dar espaço aos diferentes tipos de amor? E como lidar com a realidade frustrando a expectativa? Difícil responder, ainda depois que sobem os créditos.
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